Entenda o que é impacto social, inovação social e por que nem toda organização de impacto social inova socialmente?

12 de julho de 2020
Por Marden Rodrigues

Dentro desse contexto, surgem ainda diversos problemas sociais. No Brasil, segundo o IBGE (2019), o país tem uma população de 13,5 milhões de pessoas em extrema pobreza, ou seja, com renda mensal per capita inferior a 145 reais. Além disso, o Instituto Nacional de Alfabetismo Funcional (INAF) mostrou em seus índices de 2018 que a taxa de analfabetismo funcional no país é de quase 30% da população.

Com a pandemia e as dificuldades econômicas, as pessoas passam a ser afetadas ainda mais afetadas por todas essas problemáticas. Estamos falando de desigualdades sociais, falta de acesso à educação formal, falta de acesso à educação financeira, doenças, entre outras dificuldades. E se as pessoas continuam sendo afetadas, todo o resto passa a ser também, já que as empresas, os governos, as entidades e o mercado são compostos por pessoas e basicamente todo o sistema vigente que criamos hoje, a partir de um projeto de sociedade, depende delas. 

Muitas organizações já estão começando a mudar suas ideias, afinal, para quem elas vão vender em um mundo colapsado? Com que recursos elas produzirão seus produtos? Com que segurança conseguirão distribuí-los?

Com toda essa contextualização, agora fica mais fácil entender por que o impacto socioambiental e a inovação socioambiental é um assunto tão em alta nas conversas de bar, nas pautas de governo e no discurso do mercado em geral. Não só as novas gerações, mas todos passam a entender cada vez mais que o mundo é um projeto coletivo e todos somos interdependentes. A pandemia que estamos passando mostra com nitidez como um problema social pode interferir na vida de todos nós, independente de cor, raça, gênero ou classe social, apesar dos grupos minorizados sofrerem ainda mais.

O papel das organizações e o impacto social

O que é importante entendermos nesse cenário é como as empresas lidam com isso. Afinal, são elas que consomem a maioria dos recursos, que se comunicam com milhares de pessoas e interferem na vida de todos nós. As organizações têm um enorme poder de influência, de conscientização e de mudança.

Por isso, em um processo histórico de cobranças externas e do senso de responsabilidade socioambiental em si, as empresas necessitam se mobilizar com firmeza em colaborar para um mundo mais equilibrado, acessível e benéfico para todos. Ou seja, as empresas são pressionados cada vez mais a dialogar com a realidade e com os problemas socioambientais, desenvolvendo relações de mútuo benefício com a sociedade (relação ganha-ganha). 

A partir disso, surge a ideia do negócio de impacto social, ou simplesmente negócios sociais. Grandes autores que conceituam essa temática, como Yunus, Teodósio e Comini,  explicam que o  termo é usado para traduzir negócios que geram receita para financiar seus próprios custos e reinvestem o restante em alternativas de produtos ou serviços que buscam resolver ou combater problemáticas socioambientais com eficiência, por meio das estruturas de mercado, que são os processos e interações que já acontecem nele.

Infelizmente, nem toda organização ou entidade que fala sobre impacto social necessariamente pratica ele. Como esse assunto está em alta, alguns usam esse discurso para simplesmente ganhar status, reputação e até melhorar as vendas ou a imagem perante o consumidor a população em geral. Por isso, é importante, enquanto consumidores, ficarmos atentos às campanhas e resultados das empresas.

E o que é inovação social ?

Paralelamente, existe o conceito de inovação social, que agrega outro ponto em nossa discussão: Nem toda organização que fala sobre impacto social necessariamente pratica ele, assim como nem toda organização que, de fato, impacta no social necessariamente pratica uma inovação social. 

A inovação social pressupõe novas formas de se fazer algo que gera valor social, com isso, esse tipo de iniciativa demanda um impacto social estruturado em modelos inovadores, arranjos inovadores ou metodologias inovadoras, no intuito de se propor um produto ou serviço de valor para a sociedade. Alguns autores que pesquisam a inovação social na américa latina, como Afonso, Cipolla, Bartholo, Joly e outros estabeleceram critérios que caracterizam uma inovação social:

a) estabelecem novos padrões relacionais;
b) apresentam caminhos para a solução de problemas da vida cotidiana;
c) são referências de novos estilos de vida e modos de vida mais sustentáveis;
d) podem ser ou não baseadas em novas tecnologias;
e) emergem de iniciativas de base comunitária;
f) são instáveis e se espalham por contágio e não por imposição;
g) podem nascer e morrer sem nunca se institucionalizarem;
h) estabelecem novos modelos de funcionamento baseados em atores e suas inter relações como recursos sociais.

Conclusão

Com as novas demandas por impacto e inovação social, o importante papel das empresas nesse cenário e a conceituação e diferenciação desses dois conceitos, é possível enxergar com mais nitidez as organizações que impactam socialmente ou não e se esse impacto realmente se trata de uma inovação social. Entendendo melhor esses conceitos, conseguimos também cobrar por ações mais efetivas, com resultados reais e que contribuem para o que todos nós queremos: uma sociedade com menos desigualdades e mais feliz!

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